sexta-feira, 11 de maio de 2012

 
DESTRUA O LADO ESQUERDO

“...por um lado, como o mundo figural do sonho, cuja perfeição independe de qualquer altitude intelectual do indivíduo, por outro, como realidade inebriante, que não leva em conta o individuo, mas procura ainda por cima destruí-lo e liberta-lo  por meio de um sentimento místico de liberdade.”

(Nietzsche. O Nascimento da Tragédia.)

Entre o sonho febril e o êxtase libertário, Subconcious Cruelty discursa na ala dos excessos. Figurando entre obras extremas do underground como um polêmico objeto/fetiche, onde o “polêmico” ofusca a ousadia de um jovem cineasta que dedicou cinco anos na execução do filme sem concessões, entregue de forma lúcida e consciente ao material bruto com que trabalhava.


Toda a violência gráfica posta no filme é essencial, ela é em boa parte a narrativa. Os quatro segmentos do filme: "Ovarian Eyeball", "Human Larvae", "Rebirth", and "Right Brain/Martyrdom", desafiam o espectador a adentrar este darkside e se despir de pudores. O filme não oferece uma lição de vida, mas uma experiência estética transbordando de poesia orgânica onde a sexualidade, a violência, a iconografia cristã são matérias-prima para expressar uma revolta contra hipocrisias e conservadorismo.

O primeiro segmento, “Ovarian Eyeball", começa apresentado os dois hemisférios do cérebro: o lado direito controla os pensamentos intuitivos, passionais e criativos enquanto o esquerdo domina os pensamentos lógicos e racionais, algo muito similar à definição da natureza da arte feita por Nietzsche. Segundo o filósofo, a arte provem de dois impulsos próprios à natureza do homem, o “sonho” e o “êxtase”, respectivamente representados pelos deuses da mitologia grega Apolo (representante da arte figurativa) e Dionísio (representante da arte não-figurada), impulsos antagônicos como os lados do cérebro (Apolo/esquerdo e Dionísio/direito). DESTRUA O LADO ESQUERDO (destrua o apolíneo), essa legenda anuncia a ruptura, o momento em que o dionisíaco toma de assalto e impõe sua embriaguez simbólica.

O filme discute o gesto criador e destruidor em "Human Larvae", a relação destrutiva homem sobre a natureza em "Rebirth" e a religião em sua forma comercial e narcótica em "Right Brain/Martyrdom." 

Subconcious Cruelty se assume como uma mentira em celulose, um desabafo da alma de um então jovem artista que cumpre o seu papel ao perceber como Nietzsche que o artista nos dá o “belo” quando contribui para intensificar nossa vida.

Max Andreone (APJCC -2012)



 MATADOURO apresenta:
Subconscious Cruelty, de Karim Hussain

"Subconcious Cruelty" é como um parto complicado. Suas contrações têm um ritmo acelerado e como o título sugere, partem de um lado obscuro e pulsante onde a raiva e o descontentamento nascem. Quatro segmentos dão forma ao filme onde pesa uma atmosfera de repulsa às instituições sociais e religiosas. Um parto entre gritos e excessos, violento, sexual e pagão. Ruptura total com a burocracia conformista e asséptica das imagens e suas convenções narrativas. Muitas vezes procuramos na arte um fragmento desconhecido de nós mesmos, uma tentativa de reconhecimento, um reflexo agradável, mas até onde somos capazes de olhar nas trevas e admitir um pouco de verdade? "Subconcious cruelty" é como um abismo que nos devora, ele desafia nossa capacidade de mergulhar nesse mundo febril e perceber sua profundidade através do choque.


 
Max Andreone (APJCC -2012)


Quarta, 16 de Maio de 2012
No atelier de artes da UFPA/ 18:30
Subconscious Cruelty (Canadá/1999) 
Direção, Roteiro e Edição: Karim Hussain.

 
ATENÇÃO: ESTE FILME NÃO É INDICADO PARA PESSOAS SENSIVEIS, GESTANTES, IDOSOS, CARDIÁCOS POR CONTER CENAS IMPACTANTES DE TERROR E VIOLÊNCIA.




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